quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Análise das Instituições Policiais

Em vez de ensinar a investigar, mediar conflitos, preservar o local do crime ou proteger cidadãos, as academias de polícia do Brasil privilegiam o uso da força física e das armas, conclui um dos mais completos estudos já realizados sobre o tema, em 15 países, coordenado pelo sociólogo brasileiro José Vicente Tavares dos Santos. Segundo a pesquisa, no Brasil acabam sendo formados agentes de repressão, e não de segurança pública. Financiados pelos estados da federação, esses treinamentos investem em técnicas arcaicas, com currículos muitas vezes sigilosos.
Santos, que é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade de Coimbra, visitou 20 instituições brasileiras. O especialista participa da produção de uma matriz curricular proposta pela Secretaria Nacional da Segurança Pública. A análise que ele faz das instituições é incisiva:
- De modo geral, as escolas privilegiam a força física, o uso de viaturas e de armas. Atira melhor quem atinge o coração ou a cabeça do "alvo". O que há é um grande arcaísmo pedagógico. Estão muito longe da tecnologia, da modernidade. Não há quadros docentes suficientes. Vejo militares aposentados ensinando e impedindo avanços. Fazem segredo até de coisas banais, mesmo se tratando de dinheiro público - avalia.

Escolas da PM imitam as das Forças Armadas

Para Santos, a chamada "ordem-unida", que domina os currículos das escolas da PM, é um simulacro da estética das Forças Armadas, desnecessária para a execução concreta do trabalho policial, que é o de prestar serviços ao cidadão.
- As polícias do Brasil são como um espelho deformado das Forças Armadas. É preciso introduzir o saber da modernidade crítica nessas escolas, ou estaremos jogando fora o dinheiro público. E a cada dia teremos mais mortes de reféns ou por balas perdidas com dinheiro público - afirma.
O secretário Nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri, concorda com esse diagnóstico. Segundo Balestreri, o atual modelo de funcionamento e treinamento das polícias civil e militar do país guarda resquícios da ditadura. Em sua opinião, essas corporações não se adequaram à vida democrática. No seu entendimento, a polícia está longe da comunidade. Balestreri lamenta a média anual de 45 mil homicídios no Brasil.
- Temos duas meias polícias. Uma estrutura inadequada para a democracia. Uma esquizofrenia. Não fazem o ciclo completo. Cada uma faz uma parte e fica dependente da outra. Nenhum país civilizado do mundo é assim - disse Balestreri.
- Os policiais estão longe da comunidade a que deveriam estar dando proteção, e substituem a investigação por atividades burocráticas. O sistema é anacrônico. Na ditadura, o Estado sequestrou as polícias, e precisa devolvê-las à sociedade.
Fonte: O Globo 26/07/2009

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